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Transpiração em Psicanálise: o Inconsciente

É fascinante considerar a força do inconsciente, seu determinismo e sua influência em nossas vidas. Mais fascinante ainda é observar, investigar, inferir, conhecer as tramas e os dramas deste universo, através das relações de objetos que estabelecemos. Seja dentro e/ou fora de nós, seja ao acaso das circunstâncias, ao acaso inclusive das nossas escolhas, somos afetados por nossos objetos internos e por toda complexidade de nosso mundo interno.

Sendo assim, não será possível sabermos de antemão, o que iremos sentir, pensar, sonhar, ou se conseguiremos conter ou sustentar emocionalmente qualquer experiência. Poderemos sentir o impacto de um objeto no nosso self, podendo gerar alegria, prazer, compreensão, crescimento como também dor, vazio, falta de sentido ou representação dentro de nós, mas será meu Ser, minha subjetividade e meus objetos internos transpirando naquele momento da experiência.

Os objetos e os usos que fazemos deles em nossas vidas, têm a capacidade de evocar uma infinidade de experiências do self.

A partir desta visão previamente colocada, em acordo com os que aceitam as premissas da Psicanálise, é possível constatar que as experiências vividas por nós são evocações dos nossos objetos internos, na presença do outro dentro ou fora de nós, onde seremos simplesmente tocados em nossa subjetividade constituída até o momento.

Paradoxalmente, o sujeito fala de suas relações com seus objetos internos em relação a experiências com objetos externos e o campo formado pela vivência entre eles, numa díade mundo interno e mundo externo.

Este olhar me ocorreu para comentar um ponto em comum, enquanto sujeitos e objetos, ao acompanharmos a apresentação de material clínico pela colega Anna Thereza, no último encontro promovido pelo Centro Clínico do CEEPU, com comentários de uma outra colega Silvana Vassimon, onde cada qual com sua subjetividade, sua experiência emocional, clínica e teórica comunica a experiência única para cada sujeito da dupla, numa evocação contínua de si e simultaneamente do todo, em tempo real, inclusive dos presentes, irrompendo de dentro de todos participantes nossa singular “textura psíquica, onde o ego escolhe não somente que aspecto de um objeto vai usar mas, também, que modelo subjetivo empregar neste uso”(1).

São vivências únicas, tal como uma impressão digital psíquica.

Como nos conta Bollas: “O idioma de uma pessoa refere-se ao núcleo único de cada indivíduo, uma figuração do Ser, parecida com uma semente que pode, sob condições favoráveis, evoluir e se articular – o idioma humano é essência definida de cada sujeito, e, embora, todos nós tenhamos certo sentido sutil do idioma do outro, esse conhecimento é virtualmente impensável.” (idem)

Para mim, esta frase contempla o complexo ofício ao exercermos a Psicanálise. É a partir do self de cada um, do analista, do analisando e   relação de ambos, via transferência, no idioma de cada um, é que encontramos espaços potenciais de transformações.

 

 

Referência bibliográfica:

1.Bollas, C. Sendo um personagem. Ed. RevinteR. RJ, 1998.

 

 

Mara Guimarães P. Lima Degani.

Psicóloga, Psicanalista, Membro Efetivo e Supervisora do CEEPU, Membro Associado da SBPSP, Membro do NPU.

 

Outubro/2022.

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