CEEPU

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Nota Preliminar

O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.
A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar.
A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.
A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.
A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.
A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo. Fernando Pessoa

Poema de Quarentena

por Elisa Aires.

Vejo um bebê sendo amamentado.

Vejo uma mãe consolando o choro.

Vejo um pai embalando o berço.

Vejo um menino muito curioso.

Vejo uma moça e os seus amores.

Vejo um homem descobrindo dores.

Vejo uma mulher plantando flores.

Vejo um velho e o seu silêncio.

Ouço os pássaros no entardecer.

Ouço as buzinas dos apressados.

Ouço o vento e a ventania.

Ouço a televisão com suas notícias.

Ouço o sino da catedral.

Saboreio o pão do dia.

Saboreio o suco da fruta colhida.

Saboreio a fome desesperada.

Saboreio a sopa quente em noite fria.

Cheiro a comida na mesa posta.

Cheiro as rosas do vaso da sala.

Cheiro o mofo no guarda-roupa.

Cheiro a fumaça vinda das ruas.

Toco a caneta para fazer palavras.

Toco o telefone para ter companhia.

Toco a folha que está vazia.

Toco as lágrimas do cansaço.

Toco a cortina por onde entra o sol.

Sinto a angústia que circunda todos.

Sinto a coragem que circunda todos.

Sinto o medo que circunda todos.

Sinto a música que circunda todos.

Sinto o olhar perdido que circunda todos.

Sinto a paciência que circunda todos.

Sinto a esperança que circunda todos.

Tudo se repete.

Tudo é novidade.

Tudo é sabido.

Tudo é mistério.

Tudo é concreto

E tudo desaparece.

As janelas fecham, as janelas abrem.

Elisa Aires Rodrigues de Freitas: psicóloga clínica, mestre em psicologia, membro do CEEPU e da diretoria Inova-Ação.

“Que lugar é esse? Que tempo tenho? Breve relato de uma mãe em quarentena” por Karine Botelho, Psicóloga clínica, membro efetivo do CEEPU e da atual diretoria Inova-Ação.

Essas são as indagações que, frequentemente, permeiam minha mente nos últimos três meses. Reconhecer o que está se passando não é uma tarefa fácil e, acredito, que nem é preciso grandes elucubrações, conclusões, soluções e todos os seus derivados, nesse momento. No entanto, penso ser importante, pensar os pensamentos (acreditem isso não é uma redundância). Para pensar, não basta querer é preciso aprender a pensar. O pensar também é produto da dúvida, pensar desestabiliza.

Perdemos um pouco da nossa identidade? Dos nossos sonhos? Daquilo que imaginávamos poder, de alguma forma, controlar? O incerto tornou-se mais certo do que nunca. O princípio da incerteza que tanto estudo em Bion e realizo na análise pessoal, se faz presente e oportuno. As observações são incompletas, depende da experiência emocional de cada um. Essa incompletude, de certa forma, me traz conforto e me possibilita sair de um lugar comum, provocando rupturas. Pra que? Para que eu possa utilizar da minha capacidade criativa, estabelecendo novas oportunidades e fazendo diferentes conexões, internas e externas. Ou, poderia simplesmente, entrar no Caos e não mais sair, inundar-me nele.

Bem sei que é muito mais fácil falar do que realizar, por isso há tantas pessoas em sofrimento, precisando de um espaço de escuta e acolhimento para as suas angústias. Um espaço onde, de fato, o pensador possa se apropriar dos seus pensamentos e tecer sua subjetividade. É urgente e necessário validar os aspectos emocionais, os quais possivelmente surgem, mas dificilmente leva-se em consideração. Ou seja, poder tornar manifesto o que está latente.

Conversando com uma amiga, confessei que tenho “beirado” a loucura (ufa, que alívio!), devido à vastidão de estados esquizoides que tem me invadido. Reconheço sendo esses, na maioria das vezes, ligado às aulas online dos meus filhos e, desse mundo frenético, que o conhecimento através das redes, tem-nos oferecido. É informação demais? É falta dela, a partir dos modelos vividos até então?

É complexo, é verdade. Trabalhar com complexidade é aumentar as probabilidades de resolução. Só se aprende a pensar esperando o inesperado, a capacidade de tolerar o vazio e o desconhecido. Fico pensando como vamos sobreviver a tantos estímulos. Que lugar daremos a eles e em qual tempo. Freud diz que é na espera pelo objeto, que não está sempre à disposição, que o bebê experimenta a falta e constrói a noção de tempo. A noção de tempo é construída, portanto, no intervalo entre a necessidade e a satisfação. A capacidade de tolerar frustração possibilita à capacidade de tolerar o tempo, tolerando o tempo, você consequentemente, aprende a tolerar o espaço.

Imagino que o meu tempo, não seja o mesmo que o dos meus filhos adolescentes, os quais potencializam, sobretudo, o que estão perdendo. A relação presencial e direta com os amigos, com o grupo, é razão sine qua non da existência. Em contrapartida, consomem as redes sociais continuamente, exigindo um esforço nosso de disciplina e rotina, admito que nem sempre a contento. Vou tentando considerar, escutando suas faltas e reconhecendo com eles, possíveis caminhos de transformação. Mas, a educação, o ensino, o que fazemos? Seguimos aprendendo como é possível, conscientes de que não há nem mais nem menos. O que há, é o espaço de um lugar nunca antes ocupado e que por isso, cada um precisa fazer valer sua imaginação e criatividade. Somos e reagimos diferentes às situações.

Acredito que ensino e aprendo diariamente com a vida, com os pacientes e especialmente com os meus filhos. Mesmo que hoje, posso reconhecer em mim, sem me assustar tanto, estados de turbulência emocional. Como diz uma pessoa, que me é muito especial e, que sou grata: “Quando sai errado é que dá mais certo”.

 

 

Karine Botelho

Psicóloga clínica, membro efetivo do CEEPU e da atual diretoria Inova-Ação, Aprimoranda em Observação da Relação Mãe-Bebê na Família, modelo Tavistock Martha Harris pelo Centro de Estudos Psicanalíticos Mãe-Bebê-Famíla de São Paulo.

“TEMPO: como pensamos, sentimos e somos o tempo que vivemos” com vídeos de diversos especialistas publicado pelo Fronteiras do pensamento

” TEMPO: como pensamos, sentimos e somos o tempo que vivemos” com vídeos de diversos especialistas publicado pelo Fronteiras do pensamento www.ceepu.com.br https://www.fronteiras.com/artigos/tempo-como-pensamos-sentimos-e-somos-o-tempo-que-vivemos

Pelo olhar o psi, por Arnaldo Chuster: “A peste sob a forma de uma Esfinge se instalou nas portas da cidade, impondo um isolamento social”

Pelo olhar o psi, por Arnaldo Chuster: “A peste sob a forma de uma Esfinge se instalou nas portas da cidade, impondo um isolamento social” – https://lulacerda.ig.com.br/pelo-olhar-o-psi-por-arnaldo-chuster-a-peste-sob-a-forma-de-uma-esfinge-se-instalou-nas-portas-da-cidade-impondo-um-isolamento-social/

Ele chega para sua sessão de segunda feira

Ele chega para sua sessão de segunda feira ( chega via skype , uma exigência que a nova realidade de pandemia nos impôs) Depois de uns cinco minutos de conversa percebo um olhar aflito de quem tinha algo importante para me contar mas hesitava, por temer minha reação . Ele: ” Estou cansado, mas dessa vez não tem nada a ver com o trabalho ” com um sorriso envergonhado, continuou ” Fiquei em casa todo o final de semana”

Termine de ler o artigo no site: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2618150675124467&id=100007886804258&sfnsn=wiwspwa&extid=wzKKeuLNBsMLgYwy

Ensaio: Falência do tempo – Pandemia provoca a ilusão de um futuro desfeito

Este é um tempo de falências. Por toda parte nos chegam notícias de uma falência múltipla: de órgãos corporais, de sistemas de saúde, de famílias, de empresas, da razão, da presidência….

Veja mais em https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2020/04/24/ensaio-falencia-do-tempo—pandemia-provoca-a-ilusao-de-um-futuro-desfeito.htm

Precisamos estar mais próximos de nós mesmos

O psicanalista Luiz Tenório Oliveira Lima, membro da SBPSP, em entrevista à coluna Direto da Fonte, do jornal O Estado de S. Paulo (@estadao), afirma que em tempos de isolamento razão e emoção devem se equilibrar. Tenório defende que aqueles que estão em análise continuem por vias digitais, como o WhatsApp, com o qual vem atendendo seus pacientes.

Leia o artigo completo no site: https://psicanaliseblog.com.br/2020/04/02/precisamos-estar-mais-proximos-de-nos-mesmos/?fbclid=IwAR0T3DdfLOIM4CuqPxJSdcEW19OSleCeO9hGYBKSXU2mJXiDn_Lnz9s_hhw