por Elisa Aires.
Vejo um bebê sendo amamentado.
Vejo uma mãe consolando o choro.
Vejo um pai embalando o berço.
Vejo um menino muito curioso.
Vejo uma moça e os seus amores.
Vejo um homem descobrindo dores.
Vejo uma mulher plantando flores.
Vejo um velho e o seu silêncio.
Ouço os pássaros no entardecer.
Ouço as buzinas dos apressados.
Ouço o vento e a ventania.
Ouço a televisão com suas notícias.
Ouço o sino da catedral.
Saboreio o pão do dia.
Saboreio o suco da fruta colhida.
Saboreio a fome desesperada.
Saboreio a sopa quente em noite fria.
Cheiro a comida na mesa posta.
Cheiro as rosas do vaso da sala.
Cheiro o mofo no guarda-roupa.
Cheiro a fumaça vinda das ruas.
Toco a caneta para fazer palavras.
Toco o telefone para ter companhia.
Toco a folha que está vazia.
Toco as lágrimas do cansaço.
Toco a cortina por onde entra o sol.
Sinto a angústia que circunda todos.
Sinto a coragem que circunda todos.
Sinto o medo que circunda todos.
Sinto a música que circunda todos.
Sinto o olhar perdido que circunda todos.
Sinto a paciência que circunda todos.
Sinto a esperança que circunda todos.
Tudo se repete.
Tudo é novidade.
Tudo é sabido.
Tudo é mistério.
Tudo é concreto
E tudo desaparece.
As janelas fecham, as janelas abrem.
Elisa Aires Rodrigues de Freitas: psicóloga clínica, mestre em psicologia, membro do CEEPU e da diretoria Inova-Ação.